Ângela Baasch tem 11 anos e é estudante e dançarina. Ela visita escolas
atuando num musical para apresentar às crianças a maneira pela qual os surdos -
como ela e os outros atores - se comunicam. A música e a dança são linguagens
da peça. Ela sente e interpreta orientada pelas ondas sonoras, mostrando que
existe muita vida e agitação além do silêncio.
Meire Cavalcante
Meire Cavalcante
Ângela Baasch, deficiente
auditiva, dançando para os alunos da EM Nossa Senhora do Carmo. Foto: Marcelo Almeida
O mundo dos surdos
não é uma calmaria só porque nele não existem sons. As pessoas que não escutam
são sensíveis à vibração do ar causada pelos ruídos e têm uma percepção extra
que as faz reconhecer ritmos e notar quando alguém se aproxima. "Não ouço
nada, mas sinto tudo. E isso me deixa feliz", diz Ângela. Aluna da 4ª
série da EM Nossa Senhora do Carmo, em Curitiba, ela também é atendida por
profissionais do Centro de Reabilitação Sydnei Antonio (Cresa), da Universidade
Tuiuti do Paraná, onde aperfeiçoa o conhecimento em libras (Língua Brasileira
de Sinais) e em Língua Portuguesa, aprende leitura labial e a se expressar
oralmente.
"Ângela adora
dançar. E precisa ter música", conta Ivanir Baasch, mãe da menina e de
mais cinco filhos, três deles surdos. A comunicação em casa é feita com gestos,
leitura labial, oralização e uma lousa na sala de jantar. "Ela me ensina
as palavras certas", afirma, orgulhosa, a dona-de-casa, que parou de
estudar na 2ª série e quer que a filha tenha uma profissão, case-se e seja mãe.
Na hora do recreio,
Ângela exibe coreografias para as amigas, que imitam seus movimentos
sintonizados com o ritmo que sai das caixas de som. A professora da 4ª série,
Rosana Chicoski Francisco dos Santos, elogia o desempenho da menina: "Ela
é esforçada e atenciosa. Fazemos atividades, com todos os alunos, nas quais as
habilidades de Ângela sejam valorizadas", diz. Os especialistas do Cresa
estão sempre em contato com os colegas da escola regular para tirar dúvidas e
sugerir estratégias.
Além de se comunicar por libras, o surdo também pode aprender a falar pela
metodologia da oralização. Nela, treina o reconhecimento de ruídos e sons e
exercita a respiração e os órgãos que ajudam na fala. A técnica estimula o uso
de aparelhos que amplificam os sons. Mas é preciso sentir-se confortável.
"Aprender a falar não pode ser uma imposição, como foi no Brasil até a
década de 1990, resultando em graves problemas escolares", adverte Ana
Dorziat, professora da Universidade Federal da Paraíba. Só nessa época começou
a ser aceito o bilinguismo, que é se comunicar em língua de sinais e ser
alfabetizado na língua dominante. Há ainda a metodologia da comunicação total,
que permite oralização e uso de gestos. Um exemplo é a Língua Portuguesa
sinalizada, um código gestual para a estrutura do idioma (diferentemente de
libras, que tem sistema linguístico próprio).
Nenhum comentário:
Postar um comentário